SEG
Antes do poeta acordar o galo cantou o primeiro poema da aurora.
TER
Existir sem vida é coisa de rochas.
QUA
O troco do pão não paga a faculdade.
QUI
Formigas protestam que as migalhas são jogadas muito longe.
SEX
O sonho de toda criança é ver um arco-íris à noite.
SAB
Que sorriso é esse que mais parece a ferrugem das tuas preces
DOM
Guardas prendem um bandido que roubava o silêncio.
[jb]
domingo, fevereiro 26, 2006
domingo, fevereiro 19, 2006
Quem somos antes do amanhecer I
Durmo.
À espera do trem na estação. Atrasado. Impaciente. Sem medo.
Um uivo de lobo me jogou na poça de lama. Acordei da viagem. Não vi o trem. Ainda atrasado. Eu era o trem. Era atrasado. Tinha vagões rodas cargas passageiros ferrugens trilhos à frente. Respirei a própria fumaça que liberava do meu forno-pulmão-traquéia. Olhei com olhos de ferro os aços que rastejavam embaixo dos meus pés mecânicos. E segui numa direção sem curvas. E segui sobre pontes. E segui por penhascos. E segui os avisos. Embora quisesse seguir o olhar desalinhado do vento...
Não há semáforos em trilhos.
E trens são demônios que correm sem freios. Eu era um demônio sem freios. Acabei de esmagar um suicida. Pobre diabo. Eu apitei. Apitei. Apitei. E apitei. Pobre diabo atrasando a viagem. Corro porque tem gente esperando na outra estação. Atrasado. Pessoas olharam pra mim de cara feia. A minha é de metal mal lavado, mas não escondo a oxidação do tempo como aqueles. Penso sobre trilhos horários ramais vegetação a bolsa esquecida em casa com a escova de dentes. Não tenho dentes.
Sou uma fornalha.
Sou um carrossel que não gira. Sem cavalos nem crianças chorando. Apenas ursos no telefone celular. Penso em cinzas lenhas e carne humana. Inferno em trânsito. Do porto ao pórtico do mundo. Não voltarei. Adiante uma ponte esculhambada: trajeto interrompido pela escassez de cuidado. A negligência do ditador sentado numa cadeira roída. Abruptos gritos e lamúrias tardias. Mas trens andam para frente. E eu tinha a minha pressa. A alma na ferrovia. Segui. Bati na córnea do medo.
Amanheço.
À espera do trem na estação. Atrasado. Impaciente. Com asas.
[jb]
À espera do trem na estação. Atrasado. Impaciente. Sem medo.
Um uivo de lobo me jogou na poça de lama. Acordei da viagem. Não vi o trem. Ainda atrasado. Eu era o trem. Era atrasado. Tinha vagões rodas cargas passageiros ferrugens trilhos à frente. Respirei a própria fumaça que liberava do meu forno-pulmão-traquéia. Olhei com olhos de ferro os aços que rastejavam embaixo dos meus pés mecânicos. E segui numa direção sem curvas. E segui sobre pontes. E segui por penhascos. E segui os avisos. Embora quisesse seguir o olhar desalinhado do vento...
Não há semáforos em trilhos.
E trens são demônios que correm sem freios. Eu era um demônio sem freios. Acabei de esmagar um suicida. Pobre diabo. Eu apitei. Apitei. Apitei. E apitei. Pobre diabo atrasando a viagem. Corro porque tem gente esperando na outra estação. Atrasado. Pessoas olharam pra mim de cara feia. A minha é de metal mal lavado, mas não escondo a oxidação do tempo como aqueles. Penso sobre trilhos horários ramais vegetação a bolsa esquecida em casa com a escova de dentes. Não tenho dentes.
Sou uma fornalha.
Sou um carrossel que não gira. Sem cavalos nem crianças chorando. Apenas ursos no telefone celular. Penso em cinzas lenhas e carne humana. Inferno em trânsito. Do porto ao pórtico do mundo. Não voltarei. Adiante uma ponte esculhambada: trajeto interrompido pela escassez de cuidado. A negligência do ditador sentado numa cadeira roída. Abruptos gritos e lamúrias tardias. Mas trens andam para frente. E eu tinha a minha pressa. A alma na ferrovia. Segui. Bati na córnea do medo.
Amanheço.
À espera do trem na estação. Atrasado. Impaciente. Com asas.
[jb]
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
Cobra-Cego
Arrasto a cadeira pelo taco encerado até a sala
com uma mão
Risco a parede imitando o caminho das lagartixas
com a outra
Meu pé direito
chuta o gato dormindo no canto abandonado
O esquerdo
pisa rápido sobre uma moeda perdida
não é possível distinguir a janela aberta
ou a porta fechada
com os olhos
ou a parede que descasca sua alma de isopor
Nem o ponto negro de uma mosca atrás do vidro
A poeira caindo sobre o sofá
A água jorrando desajeitadamente da pia
O tapete lambido de sangue
Com o corpo – guerreiro indivisível
rastejo até o teto alcançando a lâmpada
A luz é a única coisa que se vê no escuro
Mas não há aurora que resista à um pôr-do-sol
Sem sol
[jb]
Arrasto a cadeira pelo taco encerado até a sala
com uma mão
Risco a parede imitando o caminho das lagartixas
com a outra
Meu pé direito
chuta o gato dormindo no canto abandonado
O esquerdo
pisa rápido sobre uma moeda perdida
não é possível distinguir a janela aberta
ou a porta fechada
com os olhos
ou a parede que descasca sua alma de isopor
Nem o ponto negro de uma mosca atrás do vidro
A poeira caindo sobre o sofá
A água jorrando desajeitadamente da pia
O tapete lambido de sangue
Com o corpo – guerreiro indivisível
rastejo até o teto alcançando a lâmpada
A luz é a única coisa que se vê no escuro
Mas não há aurora que resista à um pôr-do-sol
Sem sol
[jb]
Assinar:
Postagens (Atom)