segunda-feira, junho 29, 2009

Fósforo

40 palitos numa caixa 4x5x1,5cm são as tentativas possíveis.
1 galão de gasolina comum e 2 litros de álcool de cozinha foram depositados ontem à noite atrás do armário onde ela guarda os alimentos.
O texto está com 1,5 parágrafo e já perdi a contagem do número de palavras. Talvez 293. Nas 3 contagens, deu 3 resultados diferentes. Não pode é passar das 400. Será longo e ninguém lerá.
O quarto tem 4x5m. A cozinha tem 7x4m. A sala é quadrada: 5x5m. O banheiro 2x3m. Não tem garagem nem lavanderia. 198 é o número da casa. Coloquei isso no texto. Os jornalistas gostarão desse detalhe.
Ela saiu às 6h22. Tenho só ½ hora.
Vi agora. Ela tirou tudo. Não há cadeiras, nem mesas. A escada fica lá fora, num rancho. Tem 7 degraus. A porta ficou fechada. Não alcanço a caixa com os palitos. Vou planejar melhor para amanhã. Estarei crescido também.
“Efetue as somas abaixo:”
Odeio tarefas da escola. Vou recontar as palavras. Vou assinar com meu nome completo. Quanto estou medindo?

sábado, junho 13, 2009

Ontem

Há um amor sem sol e sem lua
Um amor que não rima, nem beija, nem promete.

Um amor desavisado
Avesso de desejos, encruzilhado numa rua de chão.

Um amor desgrudado da metáfora
Não contido em corações vermelhos atravessados por flechas inflamadas.

Há um amor sem cor e sem som
Um amor pra ser não visto, um amor não-poema, não-música.

Um amor estúpido de sorriso
De boca trêmula, pernas altas.

Um amor de pedra jogada no rio
Apenas um lance na água eterna, sem registro em fotos.

Há um amor sem jeito e sem querer
Um amor de roupa enlameada, descalço, que não caminha à noite

Um amor sem rosto, sem modos à mesa
Devora os dias como gafanhotos em plantação.

Um amor miserável, quase um ódio branco
Quase um desenho de criança, um abismo, uma fazenda sem cerca.

Há esse amor. Sem nome. Sem endereço.
Um andarilho. Porco, mendigo, analfabeto.
Feito de fome, sede e inverno.
Procure nos lugares vazios.
Ermo de gentes.
Está lá. Ontem estava.

[jb]

terça-feira, junho 02, 2009

Entenda o mundo

DA ESPECULAÇÃO FINANCEIRA

Especular é o verbo regulador do modus operandi no mundo contemporâneo, condenado ao eufemismo da exiguidade. O quociente da operação onde imperam o superávit primário e o déficit embrionário representa uma cifra avessa ao equilíbrio de monetização e à interferência dos agentes de referência dos estados nacionais. Especular está dialogicamente ligado a uma postura de indexar à existência uma não-existência, a qual só é possível nos trópicos das linhas imaginárias. O comportamento do dinheiro, na sua forma real, isto é, lastreado pela produção de riqueza pelo beneficiamento da matéria-prima dos recursos naturais, é análogo à ingerência dos estados nacionais e mercados financeiros transnacionais, inclusive totalmente fora do arcabouço de princípios teóricos das agências especuladoras mundiais. Conforme o reconhecido economista alemão Aston Burler, a supremacia da especulação não acaba com o “reinado do dinheiro vivo”. “O dinheiro vivo não morreu”, disse numa entrevista. E não deve morrer, pois as pessoas ainda pagam o cachorro-quente da esquina com moedinhas. A teoria do “dinheiro invisível”, postulada por Burler, mecaniza um atributo estritamente relacionado à gestão corporativa de bancos, financeiras e organismos afins, e que não dialoga com a economia cotidiana dos hot dogs. O ideal idealizado está longe do real vivido, portanto, há necessidade de construir pontos de ligação mais visíveis e práticos do que teoremas de especialistas. O protecionismo das taxas cambiais e dos operadores de crédito deve desaparecer com a presença de uma legislação mais efetiva, e isso não significa necessariamente menos tributos ou encargos. Deve, aliás, representar mais impostos, até a autofagia dos sistemas fiscais dos estados nacionais. A morte do Estado determina a vitória da especulação. A vitória da especulação nos avisa que os personagens dos quadrinhos eram reais. Nós que éramos os rabiscos do mundo.

[jb]

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