terça-feira, outubro 26, 2010

Fugas, voos e nós


Eles escaparam das teias da Rede e agora estão atados à prisão branca do papel. Uma fuga inútil à primeira vista. Mas não. O risco valeu por uma cela maior e mais arejada. Um brilho fácil nas bordas da parede. O cheiro novo. A tinta fresca. As visitas mais demoradas. Uma nova casa. Apesar da mesma sentença, os mesmos crimes, os mesmos nós.

Os mesmos nós que amarram o real ao imaginário, o virtual ao concreto, a liberdade ao cárcere. Estes mesmos nós que nos fazem dois ou três, talvez leitores, escritores, passantes, aventureiros ou sei lá, prisioneiros na casa sempre aberta das palavras. Das palavras que se somam e se multiplicam e que até se dividem, mas são sempre mais que uma, mais que verbo, ação ou tato. Estes mesmos nós agora somos todos nós.

Nós que carregamos mortes nas costas e levamos vidas no colo. Nós que amamos de menos e nos vingamos demais. Nós que perdemos sempre o nascer do sol e aprendemos a nos contentar apenas com fotografias. Nós que não lembramos os sobrenomes dos amigos. Nós, traficantes, assassinos, corruptos. Nós, feitos de delinquente inocência, que não temos nossos delitos destacados nos jornais. Nós que fugimos sempre e que sempre voltamos. Nós pródigos e egoístas, tão nós mesmos e tão os outros.

Na tentativa de serem livres, 60 fugitivos saem desta Caixa para serem livros. Eles serão lidos, vistos e revistos com outros olhos. Mas não se iluda: são bandidos já conhecidos. Eles falam de fogo, mas são frios e impenitentes. Eles poetizam as manhãs, mas sempre tiveram as noites como casulo. Eles inventam palavras, mas não conseguem repeti-las no dia seguinte. Eles caminham na rua como um morador qualquer, mas os olhos planejam os crimes da madrugada. Eles prometem às donzelas um reino distante e feliz, mas um amor que empunha fuzil dura pouco. Eles podem até ser engraçados, mas cada graça prenuncia novas arrogâncias.

Os mesmos nós” traz o que nós somos somado ao que nós imaginamos ser. Um livro de extremos, de dualidades, de paradoxos, de conflitos, de falsos crimes perfeitos. De um lado o leitor livre pode julgar e condenar o texto preso, talvez ignorando que, na verdade, é o texto livre que julga e condena o leitor preso. De prisões às liberdades, o que muda são as grades, as correntes, as cordas. Os pesos são os mesmos, os elos são os mesmos, os nós são os mesmos.

Dá para alçar voo com essa bola de metal presa aos pés? Tentaremos. Voar é fugir para cima. Fugiremos.

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SOBRE:
O Quê? Lançamento do livro “Os mesmos nós
Quando? Dia 11 de novembro de 2010-10-27
Onde? Midas Armazém Cultural (Rua Dr. João Colin, 475, Centro, Joinville)
Quanto? Entrada Gratuita (preço do livro: R$ 10,00)
Informações? 9936-9524 / 3467-7561 c/ JB

terça-feira, outubro 19, 2010

"Os mesmos nós"

Amar uma árvore, plantar um livro, escrever uma mulher.
Ou alguma coisa nesse sentido.



Breve. Em 11/11/2010.
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