sábado, abril 19, 2008

Imago

- para Luciane

Em asas coloridas, o mosaico dos sentidos
O peso do mundo no balé de duas lâminas suaves:
dobradiças de leveza
movimentam o ar
tiram o fôlego
atraem a inquietude de olhares alheios
- contraste ao concreto humano

Ela sofreu mudanças:
Caminhavagoravoa
Por um vento hábil
(daqueles que esculpem rochedos)
eternizou-se na pele da mulher:
desenho em pedra na pele clara
Agora leva no pescoço o relevo da serena idade
- peso camuflado pela cortina dos cabelos: cachoeira

A imagem é uma varanda:
vê-se o horizonte em qualquer dia
(visão comparável ao olhar-espelho da criança)
A pintura no tecido feminino sugere um lençol colorido sobre a cama
À superfície, um selo
Carne adentro, a tinta faz um portal
poliniza o sangue
faz da alma um caleidoscópio perfeito

Difícil imaginar o vale por trás da transparência
Fácil se perder em traços riscados de dor e cor
A agulha que feriu a seda, já feriu mármores
A pena que escreve imagos, já rabiscou dragões
Só o olho
(antes apenas véu)
agora vôo

(só o tempo realça a própria sutileza)

[jb]

Aviso ao oleiro

Um dia sem nexo
delira na sombra
do espírito inquieto

A fagulha do tempo presa no canto do olho
o ponteiro parou sua escalada às 2:50

O sol nunca toma café-da-manhã
enquanto o paladar do homem
só sente a anarquia dos sonhos

Na língua, a palavra cega
Na boca, a desordem das lágrimas
(luzes em cacos de porcelana)

[jb]
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