sábado, outubro 27, 2007

Página 161

Recebi o desafio através desta Casa.

1ª) Pegar um livro próximo (não vale procurar);
2ª) Ir até a página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

E publico o resultado:

"O cara da esquina, nunca havia reparado nele ali, no outro lado da rua, seguindo-o com os olhos, na sombra do prédio da prefeitura."

In: Algumas Ficções. Antologia de Contos. Paraná: Editora De Leon, 2007.

Repasso o desafio mnemotécnico a Vanessa Bencz (menina-talento que tem textos publicados no referido livro), ao amante de Leminski, Calcinoni, a esta outra menina (de olhos meigos e escrita fina), ao Léo, e a dupla que, a quatro mãos, nos espetam em Cinco Espinhos.

[jb]

segunda-feira, outubro 22, 2007

A Monotonia do Fogo

O fogo só queima
e só.
O fogo só arde
e só.
O fogo só consome
e só.

O fogo não faz nada além do que deveria fazer

Em suas tripas fulgurantes
Encena o tédio
- maquinalmente engendrado
do cotidiano líquido-imperfeito

O fogo não tem autonomia. O fogo é perfeito
O fogo não faz nada além do que deveria fazer

Há fogo na brasa
Há fogo na cinza
Há fogo na fumaça
Há fogo onde há furor
chaleira fervendo café quente asfalto da praia lixo da cidade forno de pão crematório floresta seca laje de pedra maçarico motor turbina lixão chepa de cigarro paixão olhar assassino avião bomba vermelho sexo grito muro vulcão

Há fogo na cor dos teus olhos. O fogo não tem olhos.
O fogo não tem autonomia. O fogo é perfeito
O fogo não faz nada além do que deveria fazer

O fogo é um estranho
Um estranho gafanhoto
Gafanhoto que consome a lavoura
A lavoura do dia pela raiz
Pela raiz encravada na terra
Na terra encharcada pela água

O fogo sente fome. Ele precisa do que planto
Há fogo na cor dos teus olhos. O fogo não tem olhos.
O fogo não tem autonomia. O fogo é perfeito
O fogo não faz nada além do que deveria fazer

O fogo se cansa
de só queimar
de só arder
de só consumir
O fogo tem sede de líquidos
álcool, gasolina, querosene, óleo, mercúrio
E tem sede de sólidos
lenha, carvão, papel, tecido, osso, plástico

O fogo está preso na própria combustão
O fogo ateia-se ao próprio incêndio
O fogo queima por si só
O fogo arde por si só
O fogo consome por si só
E só

O fogo é um ingênuo. Só não sabe que depende de mim
O fogo sente fome. Ele precisa do que planto
Há fogo na cor dos teus olhos. O fogo não tem olhos.
O fogo não tem autonomia. O fogo é perfeito
O fogo não faz nada além do que deveria fazer

Meu olhar é um sopro.
Meu olhar é um vento.
Num rápido piscar, nasce o fogo.
Num rápido piscar, morre o fogo.
O fogo é cego: gafanhoto perfeito.

O fogo me chama
e só.
O fogo não faz nada além do que deveria fazer

[jb]

quarta-feira, outubro 03, 2007

π

Somadas ao fogo,
palavras equacionam o momento exato da combustão
- todo incêndio é a raiz quadrada da imprudência.

Silêncios não podem subtrair-se
caso contrário, ossificam a pele
- toda guerra é o quociente exato entre pensamento e voz.

Sinais margeiam as ruas
crescem em progressão geométrica
enquanto o homem se aninha em retângulos perfeitos
- a multiplicação dos dias ainda dá um valor negativo.

Simétrico é o inferno
fractal é o céu
Nas esquinas números com vírgulas querem ser frases.
- todos os algarismos nasceram de uma espiral

Sombras matemáticas engolem frações
a fome é uma dízima periódica
o desejo, uma sede emprestada
- qual o mínimo múltiplo comum de uma serpente?

[jb]
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