terça-feira, outubro 27, 2009

Oca sombra

Entre tua pele meridional e meus olhos de acrílico
Há um brilho boreal de manhã fria e branca
Há uma luz que semeia sorrisos em campos de neve
Há uma névoa acorrentando duas respirações

Eu vim de longe
Carrego na sola mapas de descobrimentos
Na palma das mãos, anagramas de vontades
O pó, o asfalto e a lama testemunham a jornada
Uma palmeira alta, um gato pardo e uma menina azul
Ouviram minhas composições

Hoje, dia plagiado de ontem
(num deslize criativo do Criador)
Neste vale de montanhas infinitas
Encontro teu olhar de galáxia
Vejo teu cabelo de cores vespertinas
Orbito teus desenhos de noite aberta

Eu, seco e lento
Eu, tolo e espinho
Eu, caminho estreito
Eu, miopia e fraqueza
Eu, amarras e cercas
Eu, pedra, cisco e gelo
Me penumbro
Me vazio
Me mudo
Analfabeto

Entre tua pele e meus olhos
Entre tua boca e minha música
Oca sombra muralha o renascimento do mundo
Você ainda me atravessa
Levo na garganta as iluminuras da tua palavra
Por isso falo xadrez e escrevo branco
Me revelo em respingos no abrir da tua varanda
Mas sou muito desabrigo para morar na tua casa

terça-feira, outubro 20, 2009

Deus também tem quatro letras

O medo é quadrado: forma de sombra
Arranca ângulos de tempestades
Traz noite e ânsia

O medo é quarto: túmulo aceso
Respira o odor fóssil do antes
Gargareja mofo e angústia

O medo é quadro: adorno na alma-de-estar
Visita a infância de correrias e sol
A perna sem cálcio não pisa mais o chão

O medo é quarteto sombrio:
Morte, culpa, fraqueza, covardia
Toca instrumentos de sopro
Crava espinhos roucos na plateia

O medo é quatro: usurpador da trindade
Número de voo em abismo
Múltiplo de cadáveres na segunda

O medo é quadra: geometria de assassinos
Espreita nas esquinas os preocupados
Faz muros bloqueando fugas

Eis o medo:
Fogo frio
Água negra
Estátua de vento
Poeira dos cantos

Eis o medo:
Hipotenusa dos fracos

Eis nosso inimigo, meu amor

terça-feira, outubro 06, 2009

Rã cor

O preso preto
amarga amarras marrons
por dois azares azuis

Ele, verme vermelho
amara amarelo
deixou ela de rosto roxo

A puta púrpura
bradou brancos femininos

Mulher de verdes verdades
abriu porta de lilás liberdade
gritando desgraçados degradês

Enquanto arranha paredes
em cinza cinzas
Na feira ela compra
laranjas (bem) alaranjadas
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