sábado, junho 13, 2009

Ontem

Há um amor sem sol e sem lua
Um amor que não rima, nem beija, nem promete.

Um amor desavisado
Avesso de desejos, encruzilhado numa rua de chão.

Um amor desgrudado da metáfora
Não contido em corações vermelhos atravessados por flechas inflamadas.

Há um amor sem cor e sem som
Um amor pra ser não visto, um amor não-poema, não-música.

Um amor estúpido de sorriso
De boca trêmula, pernas altas.

Um amor de pedra jogada no rio
Apenas um lance na água eterna, sem registro em fotos.

Há um amor sem jeito e sem querer
Um amor de roupa enlameada, descalço, que não caminha à noite

Um amor sem rosto, sem modos à mesa
Devora os dias como gafanhotos em plantação.

Um amor miserável, quase um ódio branco
Quase um desenho de criança, um abismo, uma fazenda sem cerca.

Há esse amor. Sem nome. Sem endereço.
Um andarilho. Porco, mendigo, analfabeto.
Feito de fome, sede e inverno.
Procure nos lugares vazios.
Ermo de gentes.
Está lá. Ontem estava.

[jb]

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