quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Cobra-Cego

Arrasto a cadeira pelo taco encerado até a sala
com uma mão
Risco a parede imitando o caminho das lagartixas
com a outra


Meu pé direito
chuta o gato dormindo no canto abandonado
O esquerdo
pisa rápido sobre uma moeda perdida


não é possível distinguir a janela aberta
ou a porta fechada
com os olhos
ou a parede que descasca sua alma de isopor


Nem o ponto negro de uma mosca atrás do vidro
A poeira caindo sobre o sofá
A água jorrando desajeitadamente da pia
O tapete lambido de sangue

Com o corpo – guerreiro indivisível
rastejo até o teto alcançando a lâmpada

A luz é a única coisa que se vê no escuro
Mas não há aurora que resista à um pôr-do-sol

Sem sol


[jb]

4 comentários:

Dinamene disse...

Mr. JB: um pôr-do-sol c/sol e 1 abraço.

Cláudio B. Carlos disse...

Gostei!


*CC*

Rubens da Cunha disse...

muito bom, o que não é novidade :)
rubens

Raphael Victoriense disse...

Objetivamente subjetivo, imagético. Muito bom

Google