quarta-feira, janeiro 23, 2008

Quatro cadeiras

SAL
O rosto temperado
Os olhos de molho
A boca em brasa

condimentam o domingo insosso na tua carne crua

sirva-me


AÇÚCAR
Algodão-doce na mão da criança
Sorriso diabético nos lábios da mãe
Receita médica debaixo do pacote de bolacha

fermentam em banho-maria a satisfação rica em vitaminas

sirva-se


AZEITE
Alívio imediato das dores
A quem come dos manjares do Rei
A corda da forca foi lubrificada pelo Ungido

e o cadafalso está ensopado de culpa

deram-me um prato de papelão


FARINHA
O garfo mexe a água quente: faz pirão
A língua não sente mais nenhum sabor
O estômago devolve as comidas de sempre

ele sabe: a sobremesa tornou-se a refeição principal

não aprendi a orar antes de comer

[jb]

2 comentários:

Ádlei Duarte de Carvalho disse...

Fantástico...

Parabéns!

Fran Hellmann disse...

Acho fascinante a poesia dos odores e dos sabores...

Beijo

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