quarta-feira, setembro 30, 2009

Corredor

Vivia na cidade grande com coisas quentes na cabeça. Não sabia o que era tranquilidade ou outra espécie de coisas pequenas. Acostumou-se ao mundo gigantesco. Viadutos, rodovias, pontes, prédios, relatórios e soberbas. E ela também era assim. Igual ao ambiente. Talvez um pouco menor por dentro. Mas as coisas sempre aparentam ser maiores do que pensamos, mesmo quando o pensamento já seja enorme. Somos expansivos. Somos sem fim. Principalmente quando se vive numa cidade feita de prazos e rotinas. Rotinas lancinantes. Ruas imersas em infinitos.

Toda vez que saía do escritório, ao fim da tarde, passava na ótica para ver modelos de óculos. Cada dia era um diferente. Tinha interesse, na verdade, pelo guardador de veículos ao lado. Rapaz normal que veste sempre uma camisa verde. A cidade não permite muitos contatos. A vida é pequena, nesse sentido. Tudo pode girar ou ser grande, mas no campo dos relacionamentos há uma pequenez de corredor. Há um terror que assola todo dia. Nervuras de dias inteiros de sol e pedidos. Quando chega fim de semana, chove castigando.

Havia displicência com o futuro, com a preocupação comum de sobrevivência e respeito. O que queria era pequeno. Teria de se mudar. De cidade, de profissão, de planos. Depois de dois meses chovendo nos finais de semana, decidiu que no próximo domingo-sol visitaria o lugar indicado no catálogo turístico.

Nenhum comentário:

Google